Na Antiguidade, os
navegadores se orientavam pelas estrelas para chegar ao seu destino. As
estrelas representavam a direção, o auxílio imprescindível para que a jornada
tivesse sucesso. Existem pessoas que são como estrelas. Elas nos orientam, mostram-nos
a direção correta, auxiliam-nos na nossa jornada, iluminam nosso caminho pela
vida.
Eu tive a grande sorte
e o privilégio de contar com a ajuda de uma grande estrela. Ela me guiou em
todos os momentos importantes da minha vida musical, mostrando-me sempre o
caminho da luz. Conheci o Sergio Abreu aos 15 anos de idade, levado pelo meu
professor, Jodacil Damaceno. O pretexto era ter a opinião dele sobre um violão
espanhol que eu acabara de adquirir, mas, na verdade, o que eu queria mesmo era
conhecer de perto um dos maiores gênios que o violão brasileiro já havia produzido.
Sergio abriu a caixa do violão e pôs-se a afiná-lo. Imediatamente saquei um
diapasão do bolso e bobamente lhe ofereci “ajuda”. “Não precisa, não”, foi a
resposta curta. Para meu espanto adolescente, Sergio tinha o lá fundamental na
cabeça. Ainda incrédulo, fui testar a afinação com o diapasão e, para a minha
surpresa, constatei que estava tudo certo.
Ele começou a experimentar o violão, testando os limites do instrumento,
corda por corda, improvisando acordes e temas. À medida que ele foi tocando, fui
me dando conta de que estava diante de um fenômeno musical. Aproveitei a
ocasião para tocar algumas passagens dos Estudos
de Villa-Lobos com os quais estava tendo dificuldade. Ali, Sergio rapidamente me
deu pequenas dicas que resolveram os problemas.
Naquele dia percebi
que eu estava muito distante do meu objetivo de ser um violonista de primeira
linha. Na minha frente, desafiando-me, eu vislumbrava o monte Everest. No
entanto, ao longo dos anos seguintes, percebi também que havia uma estrela-guia
no céu, iluminando o meu caminho morro acima. Foi o início de uma amizade que
já dura mais de 30 anos.
Ao longo de todo esse
tempo, aprendi muito com o Sergio. Aprendi que não só na música, mas também na
vida, devemos cultivar o perfeccionismo, perseverar na busca pela excelência
absoluta, tentar fazer tudo sempre benfeito não só com inteligência, mas também
com simplicidade e humildade. Em termos artísticos, Sergio me ensinou a ter um
compromisso total com a arte, com a música e com o violão - nessa ordem. Também
fui testemunha de inúmeros episódios em que ele demonstrou generosidade e
grandeza com a família, amigos, conhecidos e até mesmo com desconhecidos. Sergio certamente teria tido grande destaque
em qualquer campo em que tivesse se dedicado profissionalmente. Além do ser o
músico excepcional que nos proporcionou enormes alegrias ao longo de tantos
anos, ele acabou se interessando em ser um dos melhores luthiers da história do violão. Quem o acompanha de perto sabe que
nos últimos anos os violões Abreu têm apresentado uma evolução assustadora. Minha
firme convicção é de que os anos de ouro da produção do Sergio estão apenas
começando.
Sei que Sergio Abreu foi
a estrela-guia de muitas outras pessoas. No meu caso, ele provocou e continua provocando
um impacto enorme na minha vida e no meu desenvolvimento musical. Jamais teria
conseguido fazer o que fiz sem a ajuda e a orientação dele. Tenho certeza de que
falo por muitos outros quando digo que não tenho palavras para expressar a
minha gratidão por tudo que ele fez por mim ao longo de tantos anos.